sexta-feira, 4 de maio de 2007

Espetáculo estréia em São Paulo

Depois de participar de diversos Festivais (como Curitiba 2006) e de apresentações em diversos estados brasileiros (através da Caravana Funarte Petrobras), volta a São Paulo o espetáculo Prego na Testa. A montagem dos Parlapatões, dirigida por Aimar Labaki, com atuação solo de Hugo Possolo, rendeu indicação de melhor ator ao Prêmio Shell daquele ano.
Após completar uma centena de apresentações, Prego na Testa volta em horário especial, aos sábados às 24h, com preços reduzidos, apenas R$ 10,00 (meia para todos), iniciando a segunda etapa de patrocínio da Petrobras ao grupo Parlapatões, apoio da Energias do Brasil, através da Lei Rouanet, que se soma ao Programa de Fomento ao Teatro para viabilizar a programação do Espaço Parlapatões.
O parlapatão Hugo Possolo vive nove personagens urbanos cujo humor nasce de seu próprio desespero.

O texto do americano Eric Bogosian, cujo título original é Pounding Nails in the Floor with My Forehead, aguardou mais de onze anos para ganhar sua versão brasileira. Em português, o título sugere o duplo sentido de ameaçar o crânio por um prego ou de que ele já esteja fincado em uma mente perturbada.

A peça foi grande sucesso nos EUA com a interpretação do próprio autor. Duas de suas peças foram transformadas em filmes: Talk Radio e Suburbia (que já teve montagem teatral paulista). Mestre em expor o ridículo da neurose urbana, Bogosian desenha, em Prego na Testa, vários tipos que vão do esquisito ao hilariante, sempre instigando a platéia a reações que vão da gargalhada à angústia.

A tradução e adaptação de Aimar Labaki, além de situar aspectos da realidade brasileira, reordena condições de ritmo e síntese a serviço da força poética de cada cena. Insere os personagens em contextos mais determinados, o que consolida o elo entre eles, deixando espaço para a interpretação fluir.

Para Labaki, que também dirige o espetáculo, o autor americano “trata de questões políticas atacando o seu cerne: o ser humano”. Para ele “os Parlapatões sempre apontaram para a mesma direção, quer seja em espetáculos de puro divertimento, quer seja em propostas mais arrojadas, o riso é sempre garantido, e a reflexão também”.

Mais de um tema cerca a vida destes personagens multifacetados, vistos sobre o olhar cáustico de um autor inquieto e provocador. Bogosian aponta em seu texto para a sensação de impotência dos seres humanos diante da realidade das grandes cidades.

E são tantas as vezes que nos sentimos impotentes que parecemos ameaçados por um terrorista imaginário. Esta é a sensação que se busca para cada espectador em Prego na Testa. Para que ele oscile entre o medo e dúvida sobre uma vida ameaçada que não é bem a sua, mas que bem poderia ser.

Possolo, que se define palhaço, afirma que estes “personagens estão ligados pelas mesmas preocupações e são vítimas de um mesmo descaso, sem ignorar que também são responsáveis pelas situações que enfrentam”.

O parlapatão vive em Prego na Testa seu primeiro solo, mostrando que não quer estar preso a um estigma ou rótulo que muitas vezes o artista recebe ou se impõe. Quebrando o preconceito, se arrisca numa empreitada que explora outras faces do ator, sem negar tudo que já fez. Ao contrário, é apoiado no seu espírito claunesco que joga com a comicidade da tragédia de cada um de seus personagens.

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